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Francês por acaso

24Fev

Francês por acaso

Há 6.000 anos a humanidade faz pão com farinha de trigo e água, fermentado e depois assado no forno. Isso começou quando os egípcios descobriram o segredo da levedação. Mas o que comemos hoje no Brasil começou a ser preparado com esses ingredientes no final do século 18 ou nas primeiras décadas do século 19. Está completando, portanto, uns dois séculos de elaboração. Até então, não dispúnhamos de farinha branca de trigo à vontade. Ela era importada em pequenas quantidades, da Europa e Estados Unidos. Somente depois que d. João VI e sua corte se instalaram no Rio de Janeiro, em 1808, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte que invadiram Portugal, a matéria-prima forasteira se popularizou entre nós. Os estrangeiros que nos visitavam criticavam a qualidade do pão da época, à base de outras farinhas. Se é que merecia usar o mesmo nome. “Na terra (brasileira) não há pão, supre-se este defeito com o pó (farinha) de uma raiz nativa, a que chamam de mandioca”, escreveu Francisco da Fonseca Henriques, o Dr. Mirandela (1665-1731), médico português nascido na cidade homônima, em Trás-os-Montes. Fez isso no livro “Âncora Medicinal para Conservar a Vida com Saúde” (Oficina da Música, Lisboa, 1721). Também se usava no Brasil a farinha de milho. D. João VI e a corte estimularam o hábito de consumir o até então raro e caro pão branco de trigo, pois estavam acostumados a ele em Portugal. Sua vinda atraiu padeiros europeus, sobretudo franceses. O pintor, desenhista e professor parisiense Jean-Baptiste Debret (1768-1848), no livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839)”, confirma o fato. Diz que padeiros franceses abriram padarias no Rio de Janeiro. O historiador Carlos Augusto Silva Ditadi, do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, contabiliza o número desses estabelecimentos: meia dúzia em 1816 e 33 em 1844. Alguns autores contam que o pãozinho francês – assim chamado desde o início – surgiu por influência dos brasileiros que viajavam a Paris. Quando voltavam, morriam de saudade. Suspiravam por um pão com as características do que haviam conhecido na Cidade Luz. Mas Carlos Ditadi suspeita tratar-se de história romântica, semelhante à que atribui aos escravos a invenção da feijoada completa, na verdade originária da cozinha regional portuguesa, talvez de Trás-os-Montes. “Essa versão da saudade dos viajantes tem jeito de ser repetição contínua da imaginação de algum escritor”, afirma. “Volta e meia esbarro com ela”. O pãozinho francês, hoje popularíssimo no Brasil, surgiu no período colonial, mas foi no começo do século 20 que se alastrou pelo país a fora. Leva 2% de açúcar e 2% de gordura vegetal, em geral margarina. Tem pestana (o corte no alto, para abrir e crescer bonito), feita antes de entrar no forno, no qual ingressa com 65 gramas e sai com 50 gramas. Leia a matéria completa aqui. Fonte: Veja

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